segunda-feira, 7 de março de 2011

problema do rosa

sendo bom de ler bonito
ele sabe as emoções sabe olhar sabe as relações sociais sabe a natureza
sabe a cultura popular
escreve historinhas ingênuas de príncipes que casam com princesas douradas
ou de princesas que se disfarçam de guerreiros
heróis paternalistas cheios de subjetividade
que trazem melhorias higiênicas como vacinas e formalidades

mas suas histórias fazem uma imagem do brasil
nelas tem pobreza
não tem estado

suas histórias falam das distâncias
entre os narradores e personagens urbanos
e os habitantes daquelas terras

sagarana trata disso
são estrangeiros da cidade
que observam costumes do campo
e os reproduzem nas suas histórias
bem à moda regionalista

no corpo de baile dá pra ver um brasil rural
contemporâneo do rosa
a imagem do brasil anos 1950

as histórias falam das distâncias
de classe social
de instrução e linguagem
de participação no universo da cultura

em todas narradores e alter-egos
repetem rosa e sua escrita
são o estrangeiro no campo
e na cultura popular


mesmo quando estamos em campo mítico
com guerras legendárias de famílias e honra
ainda tem um segundo narrador
um estrangeiro
que escuta a história com viés investigativo
e descrente
com a mediação dele
rosa nos dá a voz de um coronel
D. Riobaldo do Urucuia
grande fazendeiro de armas

e nos encanta a todos
sedentos de mentiras
nos alimenta da fantasia que queremos
sem que nos lembremos
que a voz é de um coronel
senhor de terras e mortes
mas os ouvidos são de um ouvinte
descrente
distanciado
em plena posse de suas faculdades mentais
um ouvinte que vai sendo sugado...
que entrega a crítica e discernimento
e curte a entrega?

...enquanto isso, o império romano oprime o povo...



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