segunda-feira, 21 de março de 2011

ódio ao exagero

à falta de medida
aos saltos de sentido
às ausências de mediações
cuidadosas detalhadas

às analogias e metáforas
estarrecedoras

à falta de respeito submisso
ao novo nunca antes feito vivido sabido

ao livre pensar criar dizer

e viva o enquadrado!



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domingo, 13 de março de 2011

saco de pedras

eu larguei meu saco de pedras
se não aposto na construção, não participo, não sou responsável
estou sempre confortavelmente instalada na teoria
na minha consciência limpa de não ceder princípios
alimentada diariamente de pura insensibilidade cultivada
não vejo que estou até o pescoço mergulhada na realidade:
do lodo não estou isenta.
se escolho o muro por trás do qual atiro pedras
se atiro pedras
com quem compartilho minhas ações e fluxos comunicativos?
o que estou alimentando? como tenho participado?

vejo as inconsistências da crítica
gozosa de sua negatividade
mas cega pra sua ação no mundo
a questão não é concordar com
mas que processos estou nutrindo.

sexta-feira, 11 de março de 2011

medo

medo da solidão
que eu desejei desejo
medo das possibilidades
que eu abri com minhas mãos
medo das reprovações
que já conheço já combati
medo do erro
que não cometi ainda
que não persigo que não me atrai
medo da esperança
que se instala com a alegria
e que aproveita sossegada
sem forma sem cor sem peso
medo só
de mim.
mas eu não sou perigosa...
não pra mim.
não gosto de doer
não chamo o sofrimento
não faço o que eu não quero
não tenho culpa
sei de mim.
perigo para os outros
isso sim.
medo de quê?



...

lá no polo norte

lá no polo norte
vivia uma comunidade
que inventou o dinheiro
eram umas lâminas de gelo

mas o degelo avançava
o sol aquecia corava derretia
e o dinheiro durava pouco

então as trocas tinham que ser imediatas
era peixe por casaco casaco por carne carne por trenó trenó por botas botas por casa etc.

aí o dinheiro derreteu. de vez. acabou.
alegria.


...

c.berg

gélida.
tua frieza vem das moedas trocadas pelo pão.
magoa-te o sistema
o autor por trás do mando
é autor-itário
não libertário
preso.

sobra-te a clareza
e lá dentro da claridade
lá onde o sol penetra
alegria.





.

meu trabalho

meu trabalho?
verdade.
não existe?
mas é só que tenho.
não serve?
adapto-a, o que você quer?
sou competente.
mas diga-me.
porque se não disser
serei maluca
educadora
livre
quer parâmetros te dou
quer padrões conheço-os
quer curvas e desvios produzo-os
mas eu
sou
no que sobrar
em tudo o que sobrar
a cada brecha em cada fresta
livre.


.

burra

sou burra.
vejo os limites da inteligência
o que me prende
me cega
me paraliza

ainda tem bastante coisa...
não é pai e mãe.
é como eles me entregaram a participação na vida adulta
como a tomei pra mim

agora sou eu
bem acompanhada claro
pelas pessoas livres que eu acompanho
tenho amor
pelas pessoas livres que me escutam
gosto da liberdade
agora sou eu burra mesmo.


.

segunda-feira, 7 de março de 2011

problema do rosa

sendo bom de ler bonito
ele sabe as emoções sabe olhar sabe as relações sociais sabe a natureza
sabe a cultura popular
escreve historinhas ingênuas de príncipes que casam com princesas douradas
ou de princesas que se disfarçam de guerreiros
heróis paternalistas cheios de subjetividade
que trazem melhorias higiênicas como vacinas e formalidades

mas suas histórias fazem uma imagem do brasil
nelas tem pobreza
não tem estado

suas histórias falam das distâncias
entre os narradores e personagens urbanos
e os habitantes daquelas terras

sagarana trata disso
são estrangeiros da cidade
que observam costumes do campo
e os reproduzem nas suas histórias
bem à moda regionalista

no corpo de baile dá pra ver um brasil rural
contemporâneo do rosa
a imagem do brasil anos 1950

as histórias falam das distâncias
de classe social
de instrução e linguagem
de participação no universo da cultura

em todas narradores e alter-egos
repetem rosa e sua escrita
são o estrangeiro no campo
e na cultura popular


mesmo quando estamos em campo mítico
com guerras legendárias de famílias e honra
ainda tem um segundo narrador
um estrangeiro
que escuta a história com viés investigativo
e descrente
com a mediação dele
rosa nos dá a voz de um coronel
D. Riobaldo do Urucuia
grande fazendeiro de armas

e nos encanta a todos
sedentos de mentiras
nos alimenta da fantasia que queremos
sem que nos lembremos
que a voz é de um coronel
senhor de terras e mortes
mas os ouvidos são de um ouvinte
descrente
distanciado
em plena posse de suas faculdades mentais
um ouvinte que vai sendo sugado...
que entrega a crítica e discernimento
e curte a entrega?

...enquanto isso, o império romano oprime o povo...



...

terça-feira, 1 de março de 2011

eu

se ainda não sou eu
como posso superar o eu?

não estou caindo na obsessão do eu.
estou?

mas pisar em solo firme
antes de me voltar pro mundo

será tarde?

defina a sua ação use bem a chance lance a pedra

posso?

que sei além das palavras? ouvir e amar a todos
combater a esmo bagunçar

libertar?

eu livre eu


.